sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Machado de Assis"O Contista"

Costuma-se dividir a obra de Machado de Assis em duas fases distintas: a primeira apresenta o autor ainda preso a princípios da escola romântica, sendo por isso chamada fase romântica ou de amadurecimento; a segunda mostra o autor mais definido em relação ao ideal realista, sendo, portanto, chamada fase realista ou de maturidade. A publicação de Memória Póstumas de Brás Cubas inaugura a segunda fase da obra machadiana.

Primeira fase: A fase romântica

Entre 1872 e 1878, Machado de Assis começa a publicar romances. Ainda muito influenciado pelo amigo e mestre José de Alencar, publica, com regularidade britânica, um romance a cada dois anos. Em Ressurreição (1872), A Mão e a Luva (1874), Helena (1876) e Iaiá Garcia (1878), temos um Machado ainda romântico, mas antecipando alguns temas e procedimentos de suas obras-primas realistas e, principalmente, conquistando um público leitor que já receberia sua revolução realista com boa vontade. Escreveu ainda em sua fase romântica os livros de contos: Histórias de meia-noite e Contos fluminenses.
Analisando os romances e os contos machadianos considerados românticos, vê-se que já apresentam a característica que há de marcar Machado de Assis: os acontecimentos são narrados sem precipitação, entremeados de explicações aos leitores por parte do narrador, cheios de considerações sobre os comportamentos. Suas personagens não são tão lineares como as dos maiores românticos: elas têm comportamentos imprevistos, fazem maquinações, não transparentes, são interesseiras. Mas a estrutura narrativa de Machado ainda é linear, isto é, as narrativas têm começo, meio e fim demarcados.

Segunda fase: A fase realista

Com a publicação de Memórias póstumas de Brás Cubas, Machado de Assis mudou o rumo de sua obra, Amadureceu como escritor, passando a escrever para leitores mais maduros. Era a hora de personagens mais elaboradas, construídas à luz da psicologia. Era também a hora da técnica de composição do romance: capítulos curtos, frases curtas, contato com o leitor. Uma análise apurada da sociedade brasileira no fim do Segundo Império; o casamento seria o alvo predileto da interpretação machadiana. Dentro deste, é sobre a mulher que recai a finura da investigação do escritor. As estruturas narrativas das obras desta fase fogem à linearidade, entremeando digressões temporais, intromissões do narrador e grande preocupação com a análise dos acontecimentos.
São romances do cicio realista: Memórias póstumas de Brás Cubas, Quincas Borba, Dom Casmurro, Esaú e Jacó, Memorial de Aires. E os livros de contos: Histórias sem data, Várias histórias, Papéis avulsos, Páginas recolhidas, Relíquias da casa velha.
Essa foi a mais importante fase da carreira de Machado de Assis onde concentra-se na trilogia de romances realistas publicados no final do século. O primeiro deles foi Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881). Depois, seguiram-se:

- Quincas Borba (1891) narra, na terceira pessoa, as desventuras do ingênuo Rubião, herdeiro da fortuna e do cachorro da enlouquecida personagem Quincas Borba, que já aparecia, e morria, no livro anterior. Através dessa personagem, cômica no seu despreparo para as armadilhas da corte, e trágica no seu destino, Machado ao mesmo tempo ironiza e demonstra as teorias darwinistas tão caras aos naturalistas. O ensandecido "humanitismo" de Quincas Borba, herdeiro direto da "luta pela vida" de Darwin, é sintetizado na frase "Ao vencedor, as batatas!", e acaba por ser comprovado tragicamente pela ação espoliadora do casal Sofia / Palha sobre o provinciano protagonista.

- Dom Casmurro (1899) apresenta algumas das personagens mais complexas da literatura universal. Narrado pelo velho Bento Santiago, apelidado Dom Casmurro, apresenta a história de seu relacionamento - namoro, casamento e afastamento - com Capitu, sua vizinha de infância. O narrador se esforça por demonstrar o caráter ambíguo e dissimulado tanto de sua esposa quanto de seu melhor amigo, o hábil Escobar, para assim justificar sua convicção de ter sido por eles traído. Como prova da traição, apresenta a semelhança que enxerga em seu filho, Ezequiel, com o amigo, que supõe pai da criança. Mas o esforço é vão. Se consegue construir a imagem de personagens extremamente complexos, nada nos consegue provar, pois o seu próprio caráter é tão fraco, tão inseguro e titubiante, que o leitor passa a desconfiar de seus julgamentos. Assim, além de construir a eterna dúvida (Capitu traiu ou não Bentinho?), Machado de Assis apresenta o primeiro narrador não confiável da literatura brasileira.

- Esaú e Jacó (1904) e Memorial de Aires (1908), têm o mesmo narrador personagem, o conselheiro Aires, que pouco age e passa a maior parte da narrativa contemplando placidamente as aventuras amorosas e existenciais dos jovens ao seu redor. A descrição dos dias de perplexidade da população carioca com a proclamação da República, em Esaú e Jacó, é um dos pontos altos da narrativa machadiana.
Além desses romances realistas Machado de Assis também escreveu em sua fase romântica os livros de contos: Histórias sem data, Várias histórias, Papéis avulsos, Páginas recolhidas, Relíquias da casa velha.

2.3. Características.
2.3.1. Gerais;

Através de seus contos, Machado afirma-se como grande contador de história; dá ao leitor não só a sensação de estar lendo, mas de estar participando; ele não descreve, ele mostra e fala. Um recurso também muito utilizado pelo autor é a surpresa: ele prende a atenção do leitor porque o surpreende a cada instante, seja na maneira de iniciar o conto, seja através de idéias inesperadas ou pelo modo como conduz a narrativa.
Embora tenha se interessado por mais de uma escola literária, Machado soube manter-se numa posição equilibrada entre o romantismo e o realismo, sem fixar-se rigidamente em determinada corrente. Não copiava a vida, mas servia-se da realidade, transfigurada pela imaginação. Seu interesse dominante é pelo homem, pelo espírito humano, a cuja sondagem dedicou sua arte.
O pessimismo é uma constante em sua obra; para ele o homem é irremediavelmente corrompido, egoísta, vítima da ingratidão, da maldade, do ódio. Isto se faz notar através do ceticismo do escritor, em face dos sofrimentos da humanidade, nada generoso ao julgar a vida e os homens.

O poeta
Machado de Assis iniciou sua carreira literária como poeta. Seu livro de estréia foi Crisálidas (1864), que lhe conferiu imediata notoriedade. Embora sua poesia esteja muito aquém da prosa que o imortalizou, nunca deixou de escrever poemas. Em 1870 lança Falenas, em 1875, Americanas e, em 1901, as suas Poesias Completas, que ainda não incluem um dos seus mais famosos poemas, o belo soneto A Carolina, escrito após a morte da esposa, em 1904.

O cronista
Seguindo a linha dos textos de Ao Correr da Pena, de José de Alencar, Machado de Assis contribuiu durante toda a sua carreira com textos breves para jornais, em que comenta os mais variados assuntos da vida do Rio de Janeiro e do país. Esses textos leves, de temática cotidiana, podem ser considerados os precursores da crônica moderna, em que se haveriam de destacar, no século seguinte, escritores como Rubem Braga, Fernando Sabino e Carlos Drummond de Andrade. A produção do Machado cronista se inicia já em 1859 e se estende até 1904, com raras interrupções. Sua produção mais madura foi publicada na colunas do jornal Gazeta de Notícias, em que contribui de 1881 a 1904: Balas de Estalo (1883-1885), Bons Dias! (1888-1889) e principalmente em A Semana (1892-1897).

O crítico
Também para os jornais, Machado de Assis escreveu durante toda a vida textos críticos. Sua produção infindável envolve ensaios teóricos, como O passado, o presente e o futuro da nossa literatura (1858), O ideal do crítico (1865) e Notícia da atual literatura brasileira - instinto de nacionalidade (1873), diversas resenhas críticas importantes, como aquela ao livro O Primo Basílio, de Eça de Queirós (1878) e inúmeras críticas de teatro.

O contista
Muitos das centenas de contos que Machado de Assis escreveu ao longo da vida se perderam, com o desaparecimento dos números dos jornais em que foram publicados. Outros estão apenas agora sendo republicados em livro. Sua versatilidade como contista é imensa. Escreveu tanto para os jornais mais sentimentalóides quanto para publicações seríssimas. A qualidade dos contos varia de acordo com a publicação e o público leitor a que se destinavam. Entre as coletâneas de contos que publicou, destacam-se Papéis Avulsos (1882), com o grande conto, ou novela, O Alienista, Teoria do Medalhão e O Espelho, e Várias Histórias (1896) em que se encontram, entre outras obras-primas da concisão e do impacto narrativo, A Causa Secreta, A Cartomante e Um Homem Célebre.

2.3.2. Quanto aos personagens;

Os personagens de Machado de Assis trazem certo toque diferente, não se enquadram na maniqueísta visão romântica de bem x mal. Mostram algo desconhecido na literatura do Brasil até o momento – seres dotados de vida interior, com característica próprias e individualizantes, que contrariam conceito fechado de herói. Suas personagens não são tão lineares como as dos maiores românticos. Tratam-se de seres complexos, com altos e baixos, defeitos e virtudes, caprichos e incoerência , têm comportamentos imprevistos, fazem maquinações, não transparentes, são interesseiros.
Os caracteres machadianos têm de inovador o fato de o escritor está preocupado com o homem concebido como ser universal, que, somente por causalidade, é brasileiro.

2.3.3. Quanto ao processo narrativo.

As obras iniciais obedecem à estrutura romântica, preocupadas em narrar uma história geralmente linear, com começo, meio e fim e tendo o amor como centro das atenções.
Analisando os romances e os contos machadianos considerados românticos, vê-se que já apresentam a característica que há de marcar Machado de Assis: os acontecimentos são narrados sem precipitação, entremeados de explicações aos leitores por parte do narrador, cheios de considerações sobre os comportamentos.

Divianny Gonçalves Alves

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